domingo, 18 de janeiro de 2009

O DUPLO - Dostoevsky

Pura loucura e psicose desde o personagem principal ao jeito que Dostoevsky construiu o texto.

Com todo respeito, sei que Dostoevsky devia ser uma homem muitíssimo inteligente mas para escrever obras como essa e tantas outras de sua autoria, ele devia pelo menos ter um dedao do peh, se não no sanatório, pelo menos em um consultório psiquiátrico. Os mais aventureiros dizem que ele frequentava a secao de auto ajuda nas bibliotecas moscovitas.

Feche os olhos e lembre-se dos seus dias de colégio, pode ser que vc ainda esteja neles. Agora tente recordar aquele ser excluído da sua classe, o quietao, esquisitao, estranhao, aquele q nunca era convidado para as festas e churras, que ate tentava fazer amizades mas nao conseguia por ser taxado como o chato. A figura que tu tem em mente agora provavelmente se parece muito com Golyadkin, um funcionário publico e personagem principal do livro.

Ao se encontrar com uma copia sua, mesmo q inexplicavelmente, Golyadkin, começa uma jornada pelos rios da extrema loucura, uma jornada marcada pela dualidade, hipocondria social, ambicao, complexo de inferioridade, sentimento de persiguicao, e relacoes conturbadas em seu local de trabalho.

Toda essa loucura se traduz tb na linguagem do livro. Os diálogos travados entre Golyadkin e seus interlocutores são marcados por uma esquizofrenia léxica, frases extremamente repetitivas, que deixa o leitor confuso e com extrema raiva de Golyadkin e Dostoevsky, por nos fazer sofrer tanto ao ler a palavra "senhor" 3484 vezes na mesma frase.

Influencia clara e direta para Kafka, na composição da sua obra prima "A metamorfose" ( alias, dois livros bem semelhantes), O Duplo merece uma chance, especialmente para quem esta afim de ler um livro relativamente simples, mas que permite um estudo psicológico interessante dos seus personagens, assim como em outras obras de Dostoevsky.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

GENTE POBRE - Dostoevsky

Gente pobre (alias, um nome bem legal para um livro, mas ainda prefiro Pobre Gente..bom..enfim..) eh uma obra atipica quando comparada com outros trabalhos de Dostoevsky. A historia nos mergulha no romance de Makar e Varvara, um casal apaixonado que devido a condicao precaria em q se encontram nao podem sonhar com o matrimonio.

Sua escrita em forma de cartas produz um efeito interessante no leitor: a aproximacao ao extremo com os personagens da obra e um olhar privilegiado dentro dos seus psicologicos e sentimentos mais profundos. Em adicao, os relatos de pobreza e miseria das classes russas menos favorecidas eh algo raramente visto em obras da era dourada da literatura russa, cujos personagens pertencem na maioria das vezes a aristocracia rural ou governamental da sociedade. Ou seja, uma mudanca agravadel para o leitor que nao esta acostumado com historias cujos personagens pertencem a periferia.

Dostoevsky elabora dai um estudo, mesmo q maquiado, da massa pobre de Sao Petesburgo, todas as dificuldades por ela encontrada, e o efeito disso sobre o psicologico da populacao. Algo interessante que se pode destacar da obra eh a maneira como a pobreza afeta a auto-estima dos personagens que a partir dai comecam a mostrar a sua inabilidade de alterar seus destinos em uma sociedade estamental. Alem disso, podemos citar a leve critica que Dostoevsky faz ao sistema trabalhista russo do seculo XIX, q nao apoiava seus trabalhadores nem financeiramente, nem psicologicamente.

Em suma, Gente Pobre eh um livro que proporciona uma experiencia que apenas um romance epistolar pode trazer. Agora, vou me retirar, e ir escrever uma carta, pois como ja diz o ditado: Me fale uma coisa, e eu acreditarei, me escreva a mesma coisa, e acreditarei ainda mais.

DOUTOR JIVAGO

"As instituicoes civis devem brotar de baixo, em bases democraticas, como mudas de arvores plantadas na terra, q criam raizes. Elas nao podem ser implantadas de cima, como estacas."

Muito interessante esse trecho do livro onde Boris Pasternak critica ousadamente revolucoes q ao conseguir atingir suas metas, usam de forca bruta e totalitarismo para impor suas regras.

O tempo prova que governos q usam disso tendem a nao ter exito ou gozar de grande aprovacao publica. Exemplos sao o fracasso da ditadura jacobina q fora esmagada pelos termidorianos (exemplo dado no livro) e muitos outros governos, tipicamente de paises subdesenvolvidos e miseraveis (leiam ditaduras e governos americanos e africanos). Sera q podemos citar a queda da URSS tb?...nao sei..vcs me dizem...

No livro, Pasternak cita cenas de assassinatos, execucoes em massa, fome, e outras atrocidades q mostram que a Revolucao Russa foi sim, muito sangrenta e que sua lideranca era composta por muita gente q ao subir ao poder, tomou ares oligarquicos e tiranos. Posso estar errado, nem de longe sou um perito em historia, mas lendo coisas assim, fica facil acreditar que A Revolucao dos Bichos, livro de George Orwell, descreveu corretamente o q foi esse acontecimento historico.

O ser humano e sua mania de deixar a oligarquia reinar...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DOUTOR JIVAGO -- Boris Pasternak

Vou ser sincero. O livro eh muito ruim. Tao ruim, que chega a dar raiva. Apesar de tudo isso, ao acabar-lo vc percebe que apesar de tao ruim, voce gostou do livro e passa a reconhecer a sua importancia no contexto historico russo-socialista. Isso da mais raiva ainda. Como gostar de algo tao entediante?

Sim, Boris Pasternak era muito macho e muito louco. Essa eh a unica explicacao plausivel para respondermos que tipo de pessoa escreve um livro desse em um regime totalitario, onde a censura era imposta livremente.

Considero que o livro eh uma descricao "nao-fantaciosa e nao-sensacionalista" do cotidiano russo durante as revolucoes de 1905, 1917, a primeira, e segunda guerras mundias. Pasternak mostra todos os horrores que a guerras trouxe a populacao russa, sem medir palavras: As mortes, assassinatos, fome, doencas, intolerancia, e totalitarismo. Ou seja, um verdadeiro balde de agua fria para todo o programa de propaganda politica sovietica vigente na epoca. Nao eh surpresa que o livro soh foi publicado em solo russo apenas 1m 1988 e que Pasternak fora proibido de receber o premio nobel por ele ganho em 1958. (Tenho que pausar e me perguntar como q ele conseguiu ganhar esse nobel?.....eh chato admitir q um livro desse merece...mas talves mereca mesmo).

Os pontos marcantes da obra, a desilusao com a revolucao e a descaracterizacao do ser humano, sao sozinhos razoes para ler o livro, por mais entediante q ele seja ( prometo q vou tentar pegar mais leve daqui para frente). Nao se pode dizer q se trata de um livro de direita e totalmente anti-revolucionario, mas pode se tracar uma distincao clara entre a obra e o resto da producao literaria do periodo, como por exemplo as obras inflamadas de escritores e poetas da epoca.

Nao podemos comparar o livro com Os Possessos de Dostoevsky, por exemplo. Mas talves a analogia pode ser feita com o autor de Os Possessos. Como Dostoevsky, Jigavo foi de simpatizante a revolucao, a uma pessoa calma, q advogava o bem estar da populacao acima de tudo.

Sobre o aspecto artistico, nao ha muito o q pode ser dito. Mesmo pq, a nossa experiencia ao ler o livro em portugues, e nao em russo, torna a leitura pobre quando levamos em consideracao que Boris Pasternak era conhecido como um poeta, um mestre da lingua russa q recorreu a toda sua habilidade para fazer do livro sua obra prima, um "overture", com perfeicao quase q chopiniana. O que podemos dizer eh que suas dissertacoes sobre arte sao meio confusas e escuras e que suas descricoes desnecessariamente longas da paisagem russa sao muito cansativas e fora de lugar. Sao semelhantes, eh verdade, as de Aluizio de Azevedo em sua obra O Mulato. Aluizio, porem, foi muito mais feliz na sua abordagem tecnica.

Concluindo, espere uma boa briga com o livro e seus capitulos gigantescos. Uma briga prazerosa, especialmente apos o termino da sua leitura. Se voce eh marinheiro de primeira viagem em obras russas "modernas" pos-era dourada, nao espere um Dostoevsky e nem um Turguenev, pois a leitura eh muito diferente. Mesmo assim, impossivel nao reconhecer Doutor Jivago de Boris Pasternak como leitura obrigatoria dos amantes e estudiosos da literatura russa em si e historia mundial em geral, assim como os amantes de estudos sobre filosofia politica e governamental. Uma boa sorte aos embarcantes do barco Jivago.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Dispersão - Mário de Sá Carneiro

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que me abismaste nas ânsias.

A grande ave doirada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que protejo:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto.

Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas pra se dar...
Ninguém mas quis apertar...
Tristes mãos longas e lindas...

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que sonhei!... )

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Deducao

"Nao acabarao com o amor,
nem as rusgas
nem a distancia.
Esta provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e falo:
Amo
Firme
Fiel
e verdadeiramente"
-Maiakovsky





quarta-feira, 16 de julho de 2008